
Cidade relativamente jovem, singular culturalmente e em sua composição arquitetônica, palco de acontecimentos marcantes, abriga o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, adendo - fundamentais ao mantimento da democracia brasileira -, onde são tomadas as principais decisões relacionadas ao país e por isso sempre está no foco das mídias, Brasília consegue transmitir através da arquitetura e urbanismo a imagem de poder, inovação, modernidade e progresso, aspectos demasiadamente visados na época da construção da capital.
Logo, a imagem de determinado espaço impacta diretamente na maneira que esta é percebida e começa a ser estruturada no planejamento, sua consolidação leva tempo e se baseia na combinação e interferências de distintas naturezas: territorial, cultural, socioeconômico, ambiental, político, comunicacional etc.
Sabemos que para o turismo, é essencial uma imagem de destino bem-posicionada, original, positiva, ainda mais nos tempos digitais que vivemos. Ela tem a capacidade de criar expectativas no imaginário, atraindo os turistas. Sendo um dos fatores que os influenciam na hora de escolher o quê querem conhecer ou o por quê gostariam de retornar.
É importante que já estejamos atentos quanto ao termo "imagem". Construída pela percepção de pessoas, que possuem relações diferentes com o ambiente. Cada um enxerga o lugar de acordo com as vivências que passou durante a vida. Uma arvore vai ser vista por uns, mas enxergada por outros.
Há também o outro lado, que as vezes, erroneamente, é esquecido e nem mesmo considerado no processo de elaboração do produto turístico, políticas públicas e materialização da atividade: os residentes, suas perspectivas e anseios em relação ao espaço que vive, comum ao cotidiano.
O oposto acontece com o chamado “turista cidadão” que, segundo Marutschka Martini Moesch – gestora do programa em Porto Alegre no Plano de Ação de 1999, parceria pública/privada -, refere-se a prática em que o residente sai da situação rotineira e passa a ocupar os fixos (monumentos, praças e edifícios) e especialmente os fluxos (cultura, comportamento, experiência) de sua urbe, utilizando do estranhamento e a partir deste movimento ele “descobre, no espaço cotidiano, outras culturas, outras formas étnicas e outras formas de lazer e entretenimento” (GASTAL, MOESCH, 2007, p. 65).
Ao se conectar com uma cultura que não conhece, gera muitas sensações. A identificação (por se sentir pertencente) e empatia (por se conectar afetivamente) pode gerar paz entre povos. Esse é o poder de um turismo bem planejado para o bem-estar social de toda a comunidade: desenvolvimento social.
O indivíduo conhece e usufrui de complexidades dos espaços onde turismo está inserido. Entendendo sobre o fenômeno turístico, o morador pode usá-lo como instrumento de inclusão social e cidadania nos territórios, provocando o desenvolvimento populacional, colaborando na diminuição das desigualdades sociais, através de programas da inclusão produtiva de grupos e comunidades, além de gerar interação entre eles e turistas.
Intrinsecamente, é possível associar que a aplicação correta do “Turismo Cidadão” auxilie positivamente na formação de uma imagem do/no destino otimista, tanto do ponto de vista dos “de dentro” quanto dos “de fora”, já que essa última é “um conjunto de impressões, ideias e crenças que indivíduos têm de um destino, tornando-o assim um conceito subjetivo” (BALOGLU; MCCLEARY, 2016 apud LIMA, MAINARDES, 2018, p. 2).
Fazendo o resgate de notícias, em 2014 foi lançado o programa “Turismo Cidadão” e visava a promoção do turismo cívico-pedagógico nas escolas de ensino médio, grupos de risco e idosos, justificado pelo fato alarmante de que cerca de 62% dos brasilienses não conheciam os monumentos e nem a história de Brasília (AGÊNCIA BRASÍLIA, 2014).
No contexto do Setor Comercial Sul, a iniciativa que se aproxima desta estratégia é denominada “SCS Tour”, que propõem um passeio a pé pelos prédios, arte, arquitetura, cultura, praças, ruas e becos do local (NO SETOR, c2021).
Deixamos para reflexão a seguinte questão: como incorporar o Turismo-Cidadão no Setor Comercial Sul, a fim de sensibilizar a população do DF e fazê-la, dentre outras possibilidades, desenvolver uma imagem positiva do Centro Histórico da capital?
Lembrem-se, o caminho a percorrer para alcançar um novo olhar sobre o espaço do seu dia a dia começa com a abertura para ressignificação dele, adquirir novas experiências e memórias, tendo a concepção das potencialidades, se apropriar e ir além, participando de debates e discussões políticas, sociais, civis e culturais de sua cidade.