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RESPEITE: pessoas morando.



Isto tudo é muito diferente do que eu tinha imaginado para esse centro urbano, como uma coisa requintada, meio cosmopolita. Mas não é. Quem tomou conta dele foram esses brasileiros verdadeiros que construíram a cidade e estão ali legitimamente. Eles estão com a razão, eu é que estava errado. Eles tomaram conta daquilo que não foi concebido para eles. Foi uma bastilha. Então eu vi que Brasília tem raízes brasileiras, reais, não é uma flor de estufa como poderia ser, Brasília está funcionando e vai funcionar cada vez mais. Na verdade, o sonho foi menor do que a realidade.
Lúcio Costa sobre a Plataforma Rodoviária, 1995.

Outras pessoas, por sua vez, mantêm uma imagem do Setor que envolve sensações de insegurança, abandono, medo ou desarmonia. A fama dos espaços dali como lugares de violência não é de hoje, e é derivada de atividades como o uso de drogas e a prostituição, que são encontrados no local (ou que se imagina encontrar no local), especialmente durante a noite.


A realidade é que cerca de 150 mil pessoas transitam pelas nove quadras do SCS todos os dias, carregando suas rotinas, valores, intenções e obrigações, e os espaços dali refletem toda essa pluralidade. Mas alguns não apenas transitam, permanecem.


Pessoas em situação de rua são personagens arraigados nas galerias e becos do Setor Comercial Sul e ajudam a construir, genuinamente, a ideia desse lugar no imaginário das pessoas, especialmente dos brasilienses.


Novos projetos estão dando espaço para esses moradores, em uma tentativa de trabalhar o setor no seu lado cultural, artístico e plural, como o walking tour e os projetos de exposição artística, que os abraçam  e mostram a eles uma oportunidade de contribuir a partir da sua visão para o local e ainda ajudar na construção da imagem do mesmo. 


Podemos ilustrar com o Carnaval de 2019. A empresa FGS Limpeza, que realizaram a limpeza do movimentado SCS antes, durante e depois das folias, contou com esses novos colaboradores.


A mais recente iniciativa partiu da Secretária de Cultura, que através de um chamamento público convocou os grafiteiros da cidade para revitalizar os becos do Setor com suas artes. Com isso, os moradores contribuíram com a logística de organização do evento que teve duração de dois dias.


No seu convívio, consegue ser percebido, a construção de uma relação que beneficia várias partes: a continuidade das ações das iniciativas; as oportunidades aos moradores em situação de rua - que  geram qualidade de vida; a redução da imagem distorcida e o desenvolvimento do Setor Comercial Sul, como um espaço cada vez mais democrático.


Relação, essa, que é sobre os direitos sobre aqueles que, mesmo em situação de rua, são moradores do SCS. À eles deve ser garantido o direito à cidade. De opinar sobre o espaço e participar de sua evolução. 

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