

“[...] o graffiti configura-se enquanto modo artístico e cultural de reinvenção das paisagens urbanas, levando até elas as vozes e formas que a cultura dominante não contemplou ou buscou ocultar.”
LOUZADA, 2016
A gente nasce e parece que os prédios, casas, espaços, muros surgiram da forma em que estão hoje. Crescemos, e poucas vezes nos perguntamos o por quê de o mundo estar da forma com que se configura hoje.
As formas de exclusão de sujeitos no espaço, foram inventadas por quem?
A lógica hegemônica patriarcal e capitalista, ou seja, o sentir-se superior a outra cultura que se difere e as tentativas tanto de dizimar culturas quanto de tomá-las para si, têm reproduzido na paisagem e nas relações a perpetuação da legitimação do controle dos corpos que se opõem.
Através do movimento da periferia de questionar e apropriar os espaços dos quais foram marginalizados, o graffiti se torna uma ferramenta escancarar realidades/culturas que foram ocultadas e oprimidas por essa lógica que rege as cidades em extensão mundial.
Em uma sexta, nublada e meio sem graça fomos entrevistar o Klaus (vídeo). Enquanto graffitava no SCS, gravamos pela última vez aquela tag. O "erro" era o graffiti de um homem trans sendo documentado por duas mulheres. Duas viaturas surgiram desesperadas ao nosso encontro, para socorrer a lógica da proteção do que é particular e privado.
Depois só nos restaram as reflexões, o sentimento de impotência e o portão para pintar.
Voltaram infelizes por não terem conseguido arrancar a vontade de resistir, afinal, o graffiti em seu âmago é o transgredir com o que nos violentam.
As mulheres, pretos e pretas e toda comunidade LGBTQI+ que são artistas do graffiti continuam presentes entre os espaços ignorados pela cidade. A conquista da visibilidade no espaço e paisagem urbana.
Afinal, a cidade pertence a quem?
